Triquicibernautas

20/05/2013


Tal como os restantes níveis de ensino, a educação pré-escolar tem sofrido mudanças significativas a nível educativo. Conceitos como avaliação, e novas estratégias de avaliação, fazem cada vez mais, parte do vocabulário dos educadores de infância. Desta forma percebe-se que estes passaram a olhar com maior atenção para o papel desempenhado pela avaliação na educação de infância. Esta mudança, emerge essencialmente pela forma como se começou a entender a educação das crianças mais pequenas, e olhar para o processo de avaliação como elemento fulcral para a tomada de decisões e para a regulação e melhoramento das práticas educativas.
O portefólio como estratégia de avaliação alternativa na educação pré-escolar é cada vez mais utilizado como instrumento de regulação e avaliação das aprendizagens das crianças em idade pré-escolar. Mas a heterogeneidade de pensamento quanto à conceção do conceito do mesmo, objetivos e finalidades e a aplicabilidade deste na prática, são evidências empíricas que têm surgido no quotidiano do jardim-de-infância.
Para McAfee e Leong (1997, cit.Parente, 2004, p.52), o “Portfolio é uma compilação organizada e intencional de evidências que documentam o desenvolvimento e a aprendizagem de uma criança realizada ao longo do tempo”. Neste sentido, é considerado um instrumento de avaliação alternativa em educação de infância, tal como é preconizada na circular nº4/DGIDC/DSDC/2011. Entende a avaliação como parte integral do processo de ensino-aprendizagem e é uma estratégia colaborativa, já que todos os intervenientes da ação educativa interagem e colaboram neste processo (crianças, educadores, pais), sendo também considerado como uma resposta educacional “ao desafio de aperfeiçoamento de procedimentos de avaliação alternativa e/ou autêntica (…)” (Parente, 2004, p.52), pois ao avaliar as aprendizagens e desenvolvimento das crianças, está-se a ter em conta aquilo que elas aprendem e como constroem os conhecimentos, inserindo-se este numa perspetiva sócio construtivista alternativa.
O portefólio é mais que mero dossier dos melhores trabalhos das crianças realizados num determinado período de tempo. É antes, um conjunto de produções devidamente organizadas e intencionais, das evidências das aprendizagens das crianças, que ao mesmo tempo, documentam e demonstram os processos e produtos das competências desenvolvidas. A organização do portefólio exige uma articulação sistemática entre o desenvolvimento do currículo, a aprendizagem e a avaliação e desta forma “Abrir um portefólio bem feito é como abrir uma arca de tesouro” (Shores e Grace, 2001, cit. Parente, 2004, p.52).
Os portefólios deverão incluir amostras de trabalhos, registos de observação da criança, amostra de competências de resolução de problemas, entre outros, categorizadas, datadas e colocadas por sequência temporal, para que se tenha sempre informação precisa dos processos de aquisição de conhecimentos e dificuldades da criança, e não sejam segmentadas as áreas de conteúdo.
O educador deve utilizar vários instrumentos de registos de observações sistemáticas e seleções de evidências que documentam os progressos das aprendizagens das crianças, como por exemplo, fotografias, gravações áudio e vídeo, relatos narrativos, notas de observação feitas pelos educadores, comentários das crianças acerca dos seus trabalhos e comentários dos educadores, e outros.
A forma como se selecionam as evidências permitem às crianças e aos educadores aprender mais sobre o processo de aprendizagem. Ao implicar as crianças na escolha e reflexão de evidências para colocar no portefólio (Grubb e Courtney, 1996, cit. Parente, 2004), está a dar-se um sentido de valor acrescido à participação da criança na sua aprendizagem, e a encorajar a autoanálise quando refletem sobre o que foi feito.
As crianças são convidadas selecionar os trabalhos que querem que constem no portefólio, refletir sobre eles, para que possam compreender o seu próprio percurso de aprendizagem. O educador é um mediador, monitorizando este processo de seleção de forma partilhada com as crianças.
Esta seleção é feita ao longo do ano, nesta sala,sempre que possível, num grupo que é constituído por 25 crianças, onde os recursos humanos escasseiam para fazer a documentação, como desejaríamos. Mas lá vamos conseguindo.
Mostramos aqui um bocadinho dessa seleção de trabalhos feitos recentemente pelos Triquiteiros e imagens da conversa/reflexão sobre a escolha dos mesmos com a professora. 
À medida de cada um, dentro da sua faixa etária, todos foram grandes, pois as suas escolhas revelam uma autoconsciência dos seus progressos, e da construção dos seus conhecimentos.










No início do ano decidimos qual a localização do portefólio na sala, que é de acessibilidade fácil. As crianças escolheram o formato do portefólio e decoraram a seu gosto, e sentem prazer em folheá-lo, em refletir sobre os seus trabalhos.

Nesta perspetiva, utilizar o portefólio como uma estratégia de avaliação autêntica, colaborativa e contextualizada, realizada ao longo do tempo que a criança permanece no Jardim-de-infância, permite “celebrar e documentar o que a criança faz e pode fazer” (Batzle, 1992, cit. Parente, 2004, p.53) e “ajuda as crianças a moverem-se do eu não sei fazer/e não sou capaz para o eu sei fazer/eu sou capaz” (Collins, 1998, cit. Parente, 2004, p.53), permitindo diálogos criança adulto e adulto criança.
Acredito que o portefólio numa prática de avaliação alternativa autêntica é um ótimo recurso para a compreensão da aprendizagem na educação pré-escolar. Avalia os progressos, e as dificuldades das crianças, através de um conjunto diversificado de procedimentos, que não podem ser verificados através de outras formas de avaliação. 

1 comentários:

M. Jesus Sousa (Juca) disse...

É nisto mesmo que eu acredito e é isto mesmo que, há vários anos, procuro praticar. Excelente, parabéns!

Enviar um comentário

QR code

QR code
 
Copyright (c) 2010 Triquiteiros de S.João. Design by Wordpress Themes.

Themes Lovers, Download Blogger Templates And Blogger Templates.